No Rio, recordista de casos de dengue no país, a doença se espalha pelas áreas mais nobres da capital
Cilene Guedes, do Rio
Há um penetra na alta sociedade carioca. Sorrateiro, entrou em algumas das residências mais chiques do Rio de Janeiro, conheceu as piscinas e circulou por jardins tratados com esmero. O Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, está contaminando moradores das áreas nobres da cidade. Entre eles, gente famosa, como a apresentadora de TV Márcia Peltier e seu marido, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. O casal mora no Jardim Pernambuco, luxuoso condomínio de casas do Leblon, onde foram registrados quatro casos da doença e 39 focos do mosquito.
“As pessoas mais ricas sabem como se transmite dengue, mas acreditam que estejam imunes à doença”, diz o secretário municipal de Saúde, Sérgio Arouca. “Acham que é problema de morador da Baixada, da favela.” Na Barra da Tijuca, o bairro dos ricos emergentes, já foram constatados neste ano 47 casos – mesmo número da Penha, na periferia. Copacabana, com 52 casos, quase empata com Olaria, no subúrbio. O bairro com mais registros da doença é a Tijuca, reduto da classe média na Zona Norte, com 83 ocorrências. É a prova de que no Rio a dengue é democrática: todos correm risco.
O Aedes aegypti prolifera na água limpa e parada. Reproduziu-se nos pneus velhos e nas caixas-d’água destampadas das zonas pobres da cidade. Mas também se estabeleceu em piscinas, vasos decorativos e plantas ornamentais. Na Barra, 107 focos foram identificados em bromélias, plantas que armazenam água nos jardins das classes A e B. O jogador de futebol Augusto, do Botafogo, contraiu dengue. Assustado, mandou os filhos para Brasília, onde moram os parentes.
Márcia Peltier só soube que a doença rondava o Jardim Pernambuco depois de infectada. Havia 18 focos do Aedes aegypti numa construção a 300 metros de seu casa. Márcia, que teve dengue há dez anos, diz que a segunda infecção é dez vezes pior. “Meu corpo ficou vermelho, como se tivesse ido à praia”, conta. “As mãos e os pés incharam e a cabeça doía muito.” No condomínio em que vive a apresentadora, constatou-se pela primeira vez na capital um caso do tipo 3 – um novo vírus.
O Rio já contou 2.021 infectados neste ano. “Podemos ter uma epidemia do novo vírus ou um número maior de ocorrências de dengue hemorrágica”, alerta Arouca.
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