terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Elsa Giugliani fala sobre cuidado à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violência

Em entrevista ao VIA blog, a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Elsa Regina Justo Giugliani, fala sobre a importância da publicação Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violência.
Lançada pelo governo, a cartilha orienta os profissionais da saúde a identificar as alterações comportamentais que podem auxiliar no reconhecimento de situações de violência sofrida por crianças, adolescentes e seus familiares. A publicação ensina também a traçar o diagnóstico da violência da comunidade em que o profissional atua.
Além de falar da importância do documento, Giugliani destaca as principais orientações e os obstáculos mais comuns na sua implementação. “A partir deste ano, o material será usado para subsidiar os profissionais da rede pública de saúde para atuarem na prevenção e no combate à violência contra crianças e adolescentes, incluindo o chamado bullying”, afirma Giugliani.

VIA blog – Qual o objetivo e a importância do documento?
Elsa Giugliani – A Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violência traz um modelo de cuidado e atenção a todos os tipos de violência contra crianças, adolescentes e suas famílias, que deve ser seguido por todos os profissionais de saúde do país. A partir deste ano, o material será usado para subsidiar os profissionais da rede pública de saúde para atuarem na prevenção e no combate à violência contra crianças e adolescentes, incluindo o chamado bullying. As capacitações vão começar pelos estados do Nordeste e da Amazônia Legal, onde o Ministério da Saúde desenvolve ações dentro de estratégias como o Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil e o programa Brasileirinhos e Brasileirinhas Saudáveis.
A cartilha instrui os profissionais a detectar sintomas de violência e a traçar o diagnóstico da situação da comunidade onde atua.  O material apresenta uma estratégia de abordagem padronizada à violência, seguindo quatro etapas:
1. Acolhimento > como receber as vítimas com atitudes positivas e de proteção, fornecendo, inclusive, aconselhamento familiar;
2. Atendimento (diagnóstico) > como fazer o exame físico e avaliação psicológica e encaminhamento da vítima para o tratamento adequado.
3. Notificação > como notificar o caso e encaminhar ao Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes, comunicar o caso ao Conselho Tutelar de forma ágil e acionar o Ministério Público quando necessário.
4. Acompanhamento > recomenda o planejamento individualizado para cada caso, e o monitoramento dos sintomas até a alta da vítima.

VIA blog – Quais são as principais orientações?
Elsa Giugliani –
- A cartilha traz uma lista de alterações comportamentais que podem surgir em crianças e adolescentes que vivenciam situações de violência para que os profissionais de saúde saibam identificá-las.
- Trata do bullying, recomendando ações nas escolas e aconselhamento familiar.
- Ensina a diferenciar violência sexual de jogos sexuais infantis. A cartilha esclarece que a autoestimulação e a autoexploração, o beijo, o abraço, o toque e a exposição de genitais para outras crianças são normais e fazem parte do desenvolvimento infantil. São formas de explorar a capacidade do corpo tal como a criança faz ao correr, pular, ler ou aprender. É guiada pela curiosidade espontânea, despreocupada e divertida. Costuma ocorrer entre faixas etárias semelhantes, com participação voluntária (sem ser forçada ou coagida), e o relacionamento entre os participantes é cordial e amigável, sem hostilidade ou agressividade. No entanto, se ficar caracterizada a existência de coerção ou se os envolvidos estiverem em estágios de desenvolvimento diferentes, mesmo com pequenas diferenças de idade, não há como considerar a situação como “jogo sexual”.
- Orienta em relação à legislação referente à violência. Cita, por exemplo, a Lei n. 12.015/2009, que versa sobre crimes contra a Dignidade Sexual, que considera crime de estupro de vulnerável, independentemente do sexo da vítima, qualquer tipo de relacionamento sexual com crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos. É crime também a prática de tais atos diante de menores de 14 anos ou a indução a presenciá-los.
- Traz a descrição de conceitos de violência e ajuda a identificá-los, tais como a “negligência emocional”, que ocorre quando os responsáveis, independentemente das justificativas, deixam de dar suporte afetivo e psicológico à criança ou ao adolescente. Inclui a privação de medicamentos, a falta de atendimento à saúde e à educação, descuido com a higiene.
- Trata dos sinais de erotização precoce, como a falta de preocupação dos pais com a exposição da criança à intimidade do casal, e exposição a atitudes de exibicionismo.

VIA blog – Que obstáculos geralmente são encontrados no dia a dia e que podem dificultar a aplicação prática das orientações?
Elsa Giugliani – Os principais desafios são contar com o protagonismo da família nas fases se denúncia, atenção e promoção da cultura de paz e conseguir estabelecer uma rotina de notificação de todos os casos suspeitos e confirmados de violência contra criança e adolescente, uma vez que o Ministério da Saúde depende da parceria com outros órgãos, já que o trabalho de encaminhamento é realizado em rede inter e intrasetorial.

Link da Cartilha:  http://www.viablog.org.br/conteudo/linha_cuidado_criancas_familias_violencias.pdf

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