No Rio de Janeiro, estudantes investem em acessórios e capricham no visual para retomar a rotina de estudos
Depois de um mês excursionando por países da Europa como Inglaterra, Suécia e Holanda, Fernando Israel Carneiro, 14, teve de admitir que faltou ânimo para atender ao chamado do despertador que às 6h tentava tirá-lo da cama nesta segunda-feira (7). Aluno do Colégio São Vicente, em Laranjeiras, na zona sul do Rio, ele só estreou no 9º ano agora, uma semana depois do início das aulas. “Estava viajando, voltei neste domingo. Mas a primeira semana de aula, geralmente, só tem revisão. Vou chegar já com matéria nova para aprender”, disse ele, atrasado para o primeiro tempo.
Leia também
Foto: Léo Ramos
O estudante Leonardo Assis recorre à bicicleta para tentar chegar na escola antes do fechamento dos portões
Nas escolas estaduais, 1,2 mil estudantes deram início ao ano letivo na rede. Para aluna Isabela Alves, de 17 anos, a estreia foi dupla: recém-matriculada no Colégio Estadual Infante Dom Henrique, em Copacabana, ela estava ansiosa para conhecer a escola e os novos amigos. “Toda mudança na vida da gente gera medo e expectativas. Esses sentimento me ajudou a perder o sono hoje de manhã”, falou.
Em Santa Cruz, na zona norte, Raquel Almeida, de 15 anos, matriculada na Escola Estadual Barão do Rio Branco, também contava as horas para encontrar os novos amigos. “Sempre bate a ansiedade, fica muita coisa das férias para contar”, disse a estudante.
Modismos para recuperar o ânimo
Já que acordar cedo é um fato, os alunos sempre arrumam um jeito – geralmente fofo – de driblar o sono e seguir feliz para a escola. De volta à zona sul, alunos do colégio Santo Agostinho, no Leblon, incrementaram o visual.... dos sapatos! Cadarços coloridos, tênis bicolor e estampas variadas. Vale tudo para marcar presença. “A gente tem que usar uniforme, fica todo mundo igual. O jeito é ser criativo com o tênis e a mochila, que são os únicos itens que podem ser diferentes”, explica a estudante Paolla Duarte, de 13 anos.
Quando o assunto é usar a criatividade, Paolla é craque. Além de tênis colorido (ela tem uma coleção com mais de 20 cadarços estampados), ela carrega diariamente um estojo com cerca de 50 canetas coloridas, que fazem parte da sua coleção de mais de 300. “Meu caderno é todo pintadinho, amo”, diz a estudante, que também é aspirante a atriz. “Quero mesmo é voltar às aulas de teatro. Na escola, as de História cansam”, brinca a jovem.
Para enfrentar o "sacrifício" de sair cedo da cama, os estudantes optam por adoçar a rotina, ainda que a saída encontrada não seja a mais recomendada por nutricionistas, dentistas e outros especialistas em saúde. Em cada porta de escola não falta a figura do baleiro amigo, sempre disposto a curar qualquer amargura. "Aqui tem rotina: eles sempre saem às 10h, que é hora do recreio, às 12h e às 17h. O carrinho fica rodeado de estudantes", conta o vendedor instalado na porta do Santo Agostinho que, com receio de receber críticas por estimular o consumo das guloseimas, pediu para nãoter seu nome divulgado.
Momentos de festa
Foto: Léo Ramos
Ampliar
Mãe da estudante Laura, Mônica diz que a filha não via a hora de voltar para a escola
"Quem passa direito entra de férias no fim de novembro, e este foi o caso dela. Depois de tanto tempo longe das amigas, é natural que esteja ansiosa", explica a mãe da menina, a administradora Mônica Silvestre.
"Reencontrar os amigos é a hora boa, porque na sala de aula as tarefas já começaram", reclamou o estudante Eduardo Chiani, de 12 anos. "Já tivemos dever de matemática e um resumo de nove páginas do livro de Ciências", acrescentou seu amigo Fabiano Cavalcanti Borga, da mesma idade.
O único que não resmungou contra os deveres de casa foi Igor Ganam. "Gosto de estudar", contou o adolescente, único do grupo de Eduardo e Fabiano que não ficou em recuperação no ano passado.
Escolas investem em dinâmicas para receber os alunos
Enfrentar a preguiça dos estudantes após dois meses de férias não é tarefa fácil. Escolas investiram em diferentes ideias para conquistar os alunos e melhorar os ânimos de quem precisou deixar a praia ou o video game de lado. "Programamos uma série de dinâmicas de integração para os alunos. Pensamos em atividades para os estudantes antigos e os novos que estão chegando agora. No primeiro dia fizemos uma aula inaugural no auditório, para apresentar a proposta da escola para este ano epara aproximar alunos e professores", conta a coordenadora-geral do Colégio São Paulo, no Arpoador, Martha Bonardi.
Na escola, alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental retornaram às salas de aula em datas diferentes. "Quisemos que os professores pudessem dar uma boa atenção aos alunos", contou Martha. "Só o 3º ano do Ensino Médio é que já iniciou o ano letivo em ritmo acelerado, por causa do vestibular e dos outros exames admissionais das universidades", disse ela. "Os outros segmentos passam agora por uma avaliação diagnóstica para que os professores possam identificar onde será necessário reforçar as aulas", concluiu.
Na Escola Parque, que mantém unidades na Gávea (zona sul) e na Barra da Tijuca (zona oeste), a palavra que norteia a retomada do ano letivo é "aconchego". "Temos algumas regras para começar o ano. Uma delas é a de que os alunos novos não podem passar os primeiros 15 dias sozinhos. Sempre estimulamos os mais antigos a colaborarem com esses estudantes. Depois desse período, todos ficam livres para se juntar às pessoas com quem mais se identificaram", explica a coordenadora pedagógica Paula Castro.
Redes públicas voltam esta semana
Além do Rio de Janeiro, estados como Paraná, Espírito Santo, Bahia e Santa Catarina voltaram às aulas nesta segunda-feira. Em São Paulo, a rede municipal também retomou os trabalhos e a estadual tem programação de reinício na próxima quinta-feira. No Distrito Federal as férias também terminam na quarta-feira. A maior parte da rede privada de todo o País antecipou a volta às aulas para a semana passada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário