Há uma pedra no meio do caminho, já dizia o poeta, com toda a sua sabedoria. E esta pedra não está ali por acaso. Em nossas trilhas, abertas ao longo da aventura humana, estaremos sempre nos deparando com obstáculos, dificuldades, problemas, crises. Sejam de maior ou menor envergadura, é certo que a todos estão reservados momentos em que teremos que nos superar diante de adversidades. Quem nunca passou por isso que, literalmente, atire a primeira pedra...
E no mundo de hoje, a frustração passou a ser vista, em especial do ponto de vista de muitos pais em relação a seus filhos, como praticamente inadmissível. Jogar mal no campeonato do clube, perder uma partida de tênis de mesa, não tirar 10 na redação da escola ou mesmo, em alguns casos, não poder agir do modo que quer por conta de algum impedimento (como por exemplo, estacionar o carro na vaga destina a idosos ou deficientes) está gerando entre algumas pessoas um stress desnecessário.
A ideia que prevalece é a de que vivemos no Mundo da Frustração Zero. É proibido proibir, como dizia Caetano, demonstrando a clara incongruência de nossas vidas. Se vivemos num mundo que se diz tão democrático e aberto, a liberdade deve ser plena, total, pensam tantos outros. Os limites seriam criados por nós mesmos, baseados em nosso livre-arbítrio e/ou em nosso bom senso.
E o nosso bom-senso, como já pensaram alguns filósofos, como Descartes, é sempre suficiente e é bom mesmo em qualquer instância, mesmo que contrarie o dos outros ou os consensos atingidos com as leis, diretrizes, regras e estatutos surgidos da discussão coletiva.
Frustração e dor são inerentes a trajetória humana. Perdemos e ganhamos. Devemos aprender a perder e ganhar e, mais do que isso, preparar as novas gerações para esta gangorra que muitas vezes parece ser a tônica de nossas vidas (se bem que na maior parte do tempo, para nossa alegria, vivemos num ponto de equilíbrio necessário). Se há problemas é preciso enfrentá-los, com cara, coragem, planejamento, ideias, intercâmbio de informações e desprendimento.
As dificuldades nos preparam para o amanhã. São preciosas enquanto possibilidade real de aprendizagem, de superação. Se o seu filho se depara com um problema que lhe parece difícil demais de resolver e lhe pede auxílio, o melhor caminho não é resolver por ele, mas orientá-lo para que, com base em sua experiência e buscando a determinação pessoal, possa superar estes obstáculos.
Não há vitórias sem dor e derrotas que não possam ser transformadas em superação, ganho, aprendizagem. No esporte, o treinamento é momento em que não apenas preparamos os músculos e afinamos a técnica para competir visando um lugar no pódio, mas também aquele em que moldamos o caráter e preparamos o espírito, disciplinando-o para a competição não apenas no esporte, mas na vida.
Na escola, do mesmo modo, entendendo-se que as crianças e adolescentes, por exemplo, têm maior ou menor dificuldade em certas áreas do conhecimento, é natural que o rendimento apresente alguma queda. É hora de propor um plano de estudos na disciplina, orientar em caso de dúvidas, buscar apoio nos profissionais da escola e estimular, ou seja, de mostrar que sempre há possibilidade de superação dos problemas, sempre no sentido do trabalho árduo, da organização e da disciplina pessoal.
E o que ocorre no esporte ou na escola é, certamente, amostragem ou exemplo do que ocorre na vida, no trabalho, comigo e com qualquer pessoa. Se não foi possível subir a montanha na primeira oportunidade em que nos propusemos a fazer isso, ter que retroceder, replanejar, nos condicionar melhor e, tentar novamente numa nova oportunidade é o que temos que fazer, não é mesmo?
Por João Luís de Almeida Machado
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