Acho difícil dizer. Aparentemente a ideia lhe foi sugerida realmente pelos irmãos Winklevoss. Ele não quis trabalhar com eles, fez sozinho. Foi roubo? Não sei. Parece também fato que o sócio brasileiro Eduardo Saverin foi prejudicado na reestruturação do Facebook. Aí penso que Zuckerberg pecou, no mínimo por omissão.
Mas creio que o que alimenta esse conflito de gerações são menos suas as ações do que suas reações, seu o jeito de lidar com as pessoas. Ele é retratado como indiferente aos outros, sempre alheio ao ambiente; e se isso dá a ele um ar arrogante, pode também inspirar pena por sua inaptidão social. Quando alguém se magoa com algo que fez, ele não se desculpa. Frieza e calculismo? Pode ser. Mas ao mesmo tempo ele parece ser incapaz sequer de entender os sentimentos alheios. Esse jeito peculiar aliado à genialidade e fixação na programação de computadores levou muitos a suspeitarem que, no fundo, ele tenha algum grau da Síndrome de Asperger.
Há uma revisão breve mas muito precisa disponível gratuitamente sobre ela (I). Trata-se de uma forma de autismo, na qual uma grande dificuldade de estabelecer relações sociais adequadas é muitas vezes acompanhada de interesses excêntricos e habilidades superiores em áreas como cálculo, música ou lógica. As causas são desconhecidas, e a forma adulta inclui dificuldade de compreender emoções vivenciadas por seus pares e tendência a trazer qualquer conversa para si mesmo ou seus tópicos de interesse (preste atenção ao primeiro diálogo do filme). A gravidade varia, e nem todas as pessoas precisam de tratamento formal, nem sempre sendo consideradas doentes.
Zuckerberg tem Asperger? Não sei, não; sempre desconfio das explicações psiquiátricas para os fenômenos sociais (tantos os bons como os ruins). Mas não se pode negar que os tempos atuais são favoráveis a essas pessoas: juntos, habilidade em cálculo e lógica e fixação em temas excêntricos são quase super-poderes nas mãos de um programador nerd. Lisbeth Salander, a hacker protagonista da Trilogia Millenium (thriller político-tecnológico que é uma das obras adultas de maior sucesso das últimas décadas) consegue dar um fim útil ao seus sintomas, mas assim como Zuckerberg gera amores e ódios.
Talvez as gerações mais jovens, nascidas num mundo informatizado, aceitem melhor o poder que um programador tem de mudar o mundo (ou alguns de seus aspectos) e por isso sejam mais compreensivas com Zuckerberg. As gerações mais velhas já não lidam tão bem com essas mudanças, sendo menos condescendentes. Ainda mais quando, como o próprio Zuckerberg diz do Facebook, ainda não sabemos o que isso será.
(I) Roy M, Dillo W, Emrich HM, & Ohlmeier MD (2009). Asperger’s syndrome in adulthood. Deutsches Arzteblatt international, 106 (5), 59-64 PMID: 19562011
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