segunda-feira, 28 de março de 2011

Escola pública não é sentença de fracasso

Escola pública não é sentença de fracasso: "Nessa semana, Sabrina, aluna de 19 anos, de Santo Aleixo, distrito de Magé, Baixada Fluminense, que estudou a vida toda em escolas públicas, assiste a suas primeiras aulas no curso de letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Sabrina é uma exceção. Lembrei de sua história imediatamente ao ler o depoimento de uma professora na excelente reportagem da revista Piauí de fevereiro, que acompanhou o cotidiano de uma turma de 8º ano de uma escola municipal do Rio. 'Tratam o aluno como coitadinho. Dão tudo e tapam o sol com a peneira', diz a professora, protestando contra um sistema que vê o aluno como vítima e, a partir daí, vai tirando todas as pedras do meio de seu caminho, sem que nada seja exigido dele. 'Estão se contentando com a mediocridade.' Esse não foi o caso de Sabrina, o que em grande parte explica o fato de ela ter conseguido ingressar em uma universidade pública, cujas vagas são ocupadas majoritariamente por estudantes que fizeram a Educação Básica na rede privada de ensino. Na família, ela nunca encontrou espaço para desempenhar o papel de vítima, de coitadinha. Sua mãe estava sempre pronta a pegar no seu pé, exigindo dedicação nos estudos.

Seu caso prova que escola pública não é sentença de fracasso. O desafio é convencer o aluno disso. E aí a história de Sabrina comprova o que muitas pesquisas já mostraram: a família responde por parte significativa do desempenho do estudante e de seu sucesso na vida escolar. Uma constatação dramática, pois a capacidade de atuação do Estado na vida familiar parece bastante limitada. Até que ponto a escola pode fazer o papel dos pais (incentivando a leitura desde muito cedo e despertando o interesse pelo conhecimento, por exemplo) ainda é um ponto de interrogação.

A boa notícia é que Sabrina pode ser uma exceção, mas não é uma raridade. Cada vez mais alunos de escolas públicas conseguem um lugar ao sol no mundo do educação superior. Mecanismos como o Enem e o ProUni tem contribuído para isso. O dia em que tiverem seus filhos, eles e elas (principalmente elas, pelo que dizem as pesquisas) vão ambicionar para a nova geração ao menos o que alcançaram. É claro que isso leva tempo.

Vou encontrar Sabrina no feriado de Carnaval. Levo uma coletânea de sonetos de Camões de presente e um recado: a parte mais difícil começa agora.

Texto publicado na minha coluna no jornal Destak, 2/3. Foto: filme 'Pro Dia Nascer Feliz' (Divulgação).
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